Não se sabe quem mandou a correspondência. De onde veio, os motivos. Ninguém sabe dizê-los. A verdade é que até hoje quase ninguém sequer soube o que aconteceu naquela manhã de verão.
No dia seguinte, o que chegou foi, no mínimo, algo inusitado: uma pasta vazia e um revólver sem munição. A cólera tomou conta de Sebastião, que resolveu passar uma semana inteira sem abrir a caixa de correios. Aconselhou Silvana, a mulher, a não atender a telefonema algum. Não quis falar o motivo do pânico pra ninguém, apenas para seu cão, o Astulfo. A casa vivia agora fechada, repelindo qualquer vestígio de luz. Silvana buscava uma aproximação, mas qualquer tentativa era vã diante da languidez demonstrada na face de seu grande amor. Era terrível para ela vê-lo afundando sem nada poder fazer. Sebastião parecia inebriado. Não sentia fome nem frio, apenas medo. Muito medo. A lúgubre presença do marido fazia mal a Silvana. Sebastião sofria sem saber, numa constante evasão do que não era concreto.
Silvana rezava para que Deus tivesse misericórdia do marido e o curasse, seja lá do que fosse. Ou, se fosse o caso, levasse-o de vez. Talvez uma prece muito impiedosa, mas na hora do desespero é impossível manter a moderação. Enquanto isso, Sebastião mergulhava cada vez mais fundo em sua solidão, impassível de dor ou de qualquer outra coisa. Às vezes, resmungava, praguejava contra a própria sorte. E só.
Os dias passavam, mas a semana não acabava; Silvana sentia-se aflita por não poder abrir a casa e muito menos a caixa de correios. Se ao menos soubesse o que se passava no coração do marido, mas o gelo não a deixava aproximar-se de quem antes era tudo em sua vida. O pouco que Sebastião comeu nesses dias foi graças à Silvana, que o fazia comer à força, literalmente.
Nesse tempo, Sebastião emagreceu quinze quilos e a tendência era piorar. Uma catástrofe era iminente, uma vez que o beco do medo não tem saída e é deveras escuro.
Na madrugada do último dia de clausura, Silvana encontrou Sebastião completamente paralisado, “mais morto” do que nunca. Checou a respiração e logo veio a elementar constatação: Sebastião sucumbiu ao seu próprio medo, extenuou-se sem dizer uma palavra de misericórdia ou uma última jura de amor.
Silvana pôs-se a chorar, mexendo nas coisas do marido, procurando uns documentos para o funeral. Encontrou uma caixa devidamente lacrada com a seguinte ordem: “Só abrir depois de morto. Sebastião.” Apressada, Silvana a abriu e teve certeza de que o mistério estava prestes a ser desvendado. Triste engano. Encontrou um pergaminho dobrado escrito o seguinte: “Tua vida sofrerá uma mudança radical. Prepare-se!” Além disso, encontrou uma arma descarregada e uma pasta empoeirada. O mistério acentuou-se.
Seria esse o motivo da morte? Mas que mudança seria esta? Quem mandou a carta? Por Deus, quanta perversidade! Besteira, talvez fosse apenas uma brincadeira inocente. Fatal. Entretanto, inocente.
-Deus, misericórdia! Tenha piedade deste homem bondoso que foi meu marido.
Como disse, ninguém sabe dizer o que gerou a morte, senão o Astulfo. Mas ele não sabe dizer nada... É apenas um insigne ouvinte.
O que me assusta é ver que as pessoas têm medo de seus medos. Assumi-los é uma forma de encará-los...
E o Poeta prova sua versatilidade! iaooaoiaa
ResponderExcluirUma bela crônica. Digna do grande escritor que é você.
Parabéns. Te amo.
Toda espera é recompensada quando o assunto é te ler. Estou imensamente feliz em passar por aqui. rs
Beijos, seu comunista safado! rs
Felipe, o que é isso?! Perfeito. Me arrepiei toda.
ResponderExcluirParabéns! E por falar em parabéns, é do signo de virgem, portanto deve estar bem nos dias do teu aniversário. Que dia é? :))))
Um beijo, Eloisa.
Priiscila diz:
ResponderExcluir*Felipe Braga, você é foda! (veio do meu mais intimo)
Continuando..
Você é demais, pra mim o suficiente! Se tivesse mais 1.896.879 páginas, eu as leria HOJE E AGORA sem dúvida!
Por que te ler é inexplicável, você é o mistério mais encantador que conheço!
Ficou altamente perfeito Tom. Aff.. sem palavras. Tomei um banho de sabedoria agora!
Você me surpreende!!
Beijos, "meu mais doce pôr do sol.." !
Tem toda razão, podemos ser paralisados pelo medo e não nos permitir viver tantas coisas que a vida poderia nos oferecer, se apenas nos permitíssemos...
ResponderExcluirMuito, muito bom!!
Beijoooooo
O meu é amanhã. rs e 18 já. E nem parece. Eu acho hahahaha
ResponderExcluirEstava com saudades dos seus textos...
ResponderExcluirMe encantam sempre...
Lindos!
Bjos no seu coração.
Nossa, que narrativa pesada!
ResponderExcluirMas olha, voce me surpreendeu novamente Felipe! Prova de que suas palavras vão além da poesia.
Adorei um trecho em especial:" mas na hora do desespero é impossível manter a moderação". Concordo plenamente,Me identifiquei.Otimo final de semana
muito B.O.M (y'
ResponderExcluircara, mto bom mesmo. E olha que não sou mto chegada a cronicas :D
ResponderExcluirComo diria Dan brown " O medo mata mais rapido que qualquer artefato de guerra "
Uma otima crônica..
ResponderExcluirTer medo dos proprios medos é fazer como Sebastião, cavar a propria cova.
Uma verdadeira lição essa crônica!
Nossa muito bom!
ResponderExcluirGostei muito daqui =´)
Beijo
Excelente reflexão, Felipe!
ResponderExcluirMuito bom vir aqui e encontrar algo a se pensar...
Você, realmente, sabe o que dizer!
Parabéns!
Confesso que fiquei muito curiosa sobre o segredo que o cão guarda... hehe
beijos!
"Corajosos são aqueles que assumem ter medos."
ResponderExcluirAh!que paixão!...
Foi a paixão que o matou? Foi a imensidão que o tirou dessa relaidade?
Mmmm.... Só há uma resposta!(?)
No fundo as respostas nem são importantes, mas tudo que houve neste meio tempo entre viver e morrer é. É o que faz da vida uma árvore frutífera...
Mas seja lá a 'causa mortis' que o levou a esperar pelo inevitável, ela também O trouxe de volta, Felipe. Bom vê-lo "passeando com suas palavras" por aqui!!
Sempre nos surpreendendo com o que faz a alma fremir. Maravilhoso!!
Mil beijos...
ps.: não se ausente tanto!...
Felipe, foi minha primeira vez, primeira vez que leio um texto tão bem "amarrado", nesse universo dos blogs.
ResponderExcluirVersátil você, poesias, crônicas..
Desenvolveu em grande estilo e o final foi deveras digno.
"Assumi-los é uma forma de encará-los..."
Te adorei hoje.
bá, valeu a pena a espera, que crônica maravilhosa, parabéns.
ResponderExcluirÉ tão bom ver gente que escreve assim como você, cada vez mais melhorando, criticando, sentindo..
grande beijo Fê :*
Consumir em nossos medos é se entregar na certeza de nossa morte mais covarde. Enfrentar nossos medos é aderir a uma batalha eterna contra nosso instinto de autoproteção (Tô perdida com a reforma da língua portuguesa). Dar o primeiro passo para tal é o mais assustador e desconhecido passo que daremos em nossa vida. Não há volta, pois enfrentar o que sabemos temer é "fácil" em comparação ao que enfrentamos quando estamos imersos na completa escuridão do desconhecido...
ResponderExcluirBela crônica!! Rendo-me as tuas palavras...
Beijão!
Nossa!!! gostei muito do tyeu blog e dos post's...
ResponderExcluirestou te seguindo agora...
bjuu
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlha, Parabéns !
ResponderExcluirque dom, rapaz ;
você escreve muito bem, e tem uma criatividade realmente plausível, seu modo de escrever é digna de mérito. Crônica muito bem escrita.
sobre o texto: devemos concordar/concluir, reprimir sentimentos nunca é uma boa opção.
- olha, o meu blog chama "registros em versos", e eu ecsrevo sobre sentimentos e situações ou mesmo pensamentos que às vezes temos, mas isso tudo em forma de poesia !
dá uma passadinha lá e deixa seu comentário !
beiijos;*
Ei Felipe! Sou eu que sempre sinto saudades de tuas palavras! O dom é seu...
ResponderExcluirBeijão!!
Muito lega; seguindo; me segue tbm?
ResponderExcluirT+
Nego todos os medos
ResponderExcluirFelipe,
ResponderExcluirNão cansarei de dizer...
Como você escreve bem!
Gostei muitoooo....
Uma crônica digna de aplausos... \o/
Bjinhuss
até a próxima!
OMG, estou encantada com teus textos!
ResponderExcluirbeijos
Oi Felipe passando aqui depois de um tempo para me mais uma vez ficar admirado com tuas palavras sempre certas...sempre carregadas de uma força e uma mensagem imprecionante...parabens cara...
ResponderExcluirAdemerson Novais de Andrade
...
ResponderExcluirsó vim colocar um pouco mais de amor no meu coração mesmo!
Aqui tudo é lindo! :)
Eu tambem escrevo melhor de noite! Quando deito, pra dormir... Às vezes pego o caderno e o lapis e escrevo na cama. É bom!
ResponderExcluirConheço bem essa coisa de sentir medo. Mas pior ainda é não admiti-los, por medo do que os outros vão pensar, e ficar nessa, de se consumir aos poucos, até sucumbir.
ResponderExcluir:*
aquela carta eu nem entreguei e nem vo entregar!
ResponderExcluiré só uma carta " escrevi, mas nao mandei " =D
Concordo em tudo o que você disse. O primeiro passo para não se deixar sufocar é ter coragem de encarar os medos.
ResponderExcluirGostei daqui, beijos
Ah, caramba!
ResponderExcluirDespertou minha curiosidade...
Tem medo do medo, um paradoxo curioso.
Tudo muito intrigante por aqui, eu adoro.
Beijo
Muito boa sua cronica, dá vontade de ler e reler infinitas vezes!!!
ResponderExcluirparabéns pra ti!!
passarei aqui constantemente =)
Oi Felipe!
ResponderExcluirQual música de los hermanos?? Não conheço muito deles...
Também faço o mesmo! Quando eu vejo que tu atualizastes o teu, corro para mergulhar em suas palavras
Beijo Poeta!
Não se ausente tanto! rs
ResponderExcluirCadê os aplausos?! haha
ResponderExcluirAcho que o medo é um mistério!
Eu tenho medo de barata oras... E tem gente que diz que barata é inofensiva! (credo)
Usei a criatividade nos presenteS! hahaha deu certo!
beijo
Promete não chorar ou sair desesperado pelo mundão por sentir muita falta de mim?
ResponderExcluirIrei só ficar um tempo sem postar, sem escrever.. Preciso pensar mais.
A explicação foi satisfatória?
Como sempre, caminhando tranquilamente por meio de estilos diferenciados... E o resultado? SUCESSO TOTAL!
ResponderExcluirAdorei o post.
Principalmente o final.
É preciso aprender a lidar c nossas fraquezas, nossos medos... n se acovardar. Caso contrário, aquilo q mais nos aterroriza passa a nos dominar.
Bjinhos.
Oi, vim conhecer seu blog!
ResponderExcluiradorei! Vc escreve muuito bem! voltarei sempre!
bj
O medo de ter medo de ter medo de ter medo. Lembra da música do Legião? Pois é.
ResponderExcluirNão sei como vencê-lo, Felipe. Mas eles resolvem dormir, por vezes.
Um beijo, moço.
aquilo é uma musica do legião gatinho :)
ResponderExcluirmenininhoo, precisa atualizar!
ResponderExcluirquero ler mais de suas belas obras :D
Ah querido, obrigada, como sempre amo seus comentários.
ResponderExcluire desculpa minha indelicadeza, eu deveria ter lembrado.
mas te felicito hoje, mesmo que tardiamente. Parabéns, tudo de mais lindo em tua vida, muitas paixões para que tu se inspire mais e me engrandeça com teus textos, grande beijo :*
é meu querido!! quantos medrosos não existe na face dessa terra!! sou um deles não sei!! vou pergunta ao espelho depois eu volto com a resposta...rsrs
ResponderExcluirFelipe me perdoa?! Eu achei que tinha dito que teu aniversário era no dia 18 e na verdade era dia 16. :s
ResponderExcluirVim aqui para te desejar feliz aniversário. Cheguei tarde.
Mas então, desejo muita muita muita felicidade para ti! Muito amor, muita paz, muito dinheiro. rs E que nunca você desanime da vida, e tuas mão nunca se cansem para que você possa escrever cada vez mais e mais.
Um super beijo, e obrigada pelos parabéns. Fiquei super super feliz.
Meu beijo.
"O que me assusta é ver que as pessoas têm medo de seus medos. Assumi-los é uma forma de encará-los... " Concordo plenamente, a maioriad as pessoas são covardes de si mesmas.
ResponderExcluirAcho q já falei isso, mas lá vai d novo: Adoro essa lua!
como sentir-se seguros diante de todas essas coisas?! =/
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