segunda-feira, 15 de março de 2010

Monólogo

O Medo:
Sou irmão da Covardia,
Mas isto é segredo;
Posso casar-me com a Ousadia,
Chamo-me Medo.

Aprisiono, enclausuro
E sou rejeitado por poetas;
Sempre contraditórios e obscuros,
Mas deixam-me as portas abertas.


Poeta:
Maldito és,
Medo desgraçado!
Sob meus pés
Terás o pescoço esmagado!

Sou poeta e declamo
À noite para as senhoras;
A cada uma delas eu amo,
E tu, que fazes esta hora?

O Medo:
Salvo vidas como a tua.
Tão jovem, poeta, cuidado!
Também eu admiro a lua,
Porém não sonho sentar-me ao seu lado.

Poeta:
Nunca, portanto, serás pleno!
Pois quem não é audaz
Eternamente será pequeno!
Voar é o que me apraz!

O Medo:
Não me esconjures! Não vês?
Estou sempre contigo.
Deus ajudei no que fez
E sou também teu amigo.

Poeta:
Mão como a tua não desejo,
Pois movimentar-me não poderei.
Aproveito o ensejo,
Quero ser rei!

O Medo:
Aquele que impera
Tão invejado é!
Mas é doce a tua quimera,
Reis em mim depositam fé.

Poeta:
Fé não possuo em meu coração,
Mas pelos deuses tenho respeito.
Não faço uma oração,
Elas não me tocam o peito.

O Medo:
Diz, poeta, não temes
Que tuas palavras cheguem ao fim?
Vejo que tremes,
Tens medo igual a mim!

Poeta:
Para provar-te que não,
Te escreverei um epigrama:
Tua moderação
Não deita na tua cama!

15 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. óóóóótimooo!
    Aliás, se me permite, nem a moderação nem a vergonha podem deitar-se à cama: são "boas" demais para qualquer libertinagem!!
    Um beijo!!

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  3. que inteligente sua poesia!
    Muito lindo esse "entrave" entre o sentimento e o homem (poeta).

    Ah, não me esquecerei da lua. Ela é a única luz no meio de uma imensa escuridão

    Obrigada por sempre passar por lá.
    é uma honra pra mim

    beeijo

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  4. NOssa,
    que criativo.
    Felipe, mais uma vez me surpreendendo. Gostei d+!
    Do começo ao fim uma leitura linda...
    Ameiii

    Bjinhuss
    si cuida

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  5. Lindo o conflito interno do poeta!

    É bom se ouvir por dentro, mas o poeta que há em ti sempre vence no final.

    Te amo; te admiro; te venero!

    Beijos.

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  6. Que monólogo perfeito Felipe.
    É sempre comum esse embate entre o medo e o poeta. Dois extremos duelando seu lado poético.

    Você escreve muito bem.
    Suas palavras tiram o fôlego...

    Abração meu camarada.

    =)

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  7. nossa, você escreve muito bem, cara.
    você faz letras?

    abração

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  8. um dos melhores monólogos que já li.
    PERFEITO.

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  9. Ontem estive aqui e li, não entendi.
    Não estava preparada pra ler e entender, agora foi diferente.
    Hoje voltei pra reler, entender o que eu não havia entendido, pegar o que eu havia desistido, e como sempre fui arrebatada, Lipe.
    São poucas as vezes que vejo voce nos teus poemas, que vejo voce falando de voce e pra voce.
    Normalmente teus poemas tem um lance mórbido, surreal, romantico demais, segue uma linha no passado.. Isso aqui foi atual.

    Te admiro muito.
    beijos!

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  10. como pude passar anto tempo sem vir aqui, estão perfeitos teus textos meu anjo. e o livro? quando sai?

    beijo beijo, também sinto saudade rs :**

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  11. Fê,
    a beleza que encontro neste espaço é tão maior que não deveria ficar somente nele.
    Você, Fê, é explendido. Um diálogo que travamos sempre e que na maior parte, não damos a ele importância, você, agora nos faz ver que é possível aceitá-lo e enfrentá-lo.

    Sinto-me com sorte imensa por participar deste espaço e tê-lo como grande amigo.

    Um grande beijo.

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  12. Felipe, é difícil acontecer de eu não saber como dizer o que eu estou sentindo... mas dessa vez eu realmente me perdi! Esse texto é simplesmente sensacional!!!! Não, não é exagero. Você deve saber o quanto domina as palavras e sabe mais ainda que para isso é preciso que se deixe dominar por elas!

    Parabééns!!! Beijos.

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  13. Voltei, baby.
    Teu blog se tornou um "livro de cabeceira", de tanto que o releio. rs
    Delicioso ver esse embate protagonizado por você e você mesmo, ora hesitando, ora crescendo, e sempre tocando no fundo do meu coração e da minha alma.
    O medo, que tantas vezes desdenhamos, você o abraçou e o ouviu.
    Genial, perfeito.

    Te amo.
    Beijos.

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  14. Um bom poema, Felipe.
    Está mais afiado.

    Abrçs.

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