quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Aniversário

Hoje faço aniversário. Entretanto, não tenho motivo algum para comemorar. Neste dia tão importante, quando o mundo todo se preocupa comigo, faz-se necessária uma análise. Nunca fui um bom autocrítico. Na verdade, sempre me escondi de discussões que me tinham como foco principal. Mas talvez isso seja um sinal de maturidade. Para ser sincero, estou até quase emocionado. Esta é a inauguração da minha sinceridade.
Vinte anos. Observo que os meus erros são muito mais numerosos do que os meus acertos. Fiz tudo errado. Ou, antes, errei em tudo. Pois há diferença: quem erra em tudo pode não fazer tudo errado. Mas, geralmente, aquele que faz tudo errado acaba errando em tudo. Se eu pudesse transferir minhas atitudes para outra vida, aproveitaria uma quantia mínima. Pois tudo que eu fiz, até hoje, sofreu regressos e me impossibilitou de levar uma vida feliz. Eu não sou feliz. E isso nada tem a ver com perdas amorosas; pelo contrário: adquiri mais amores do que meu coração pode ofertar, de forma que fui me enganando.
Já recebi inúmeras sugestões de verdadeiros amigos para a comemoração do meu aniversário. Rejeitei todas. Apesar de ficar assombrado sempre que penso na ideia de solidão, quero passar este dia sozinho. Não vejo motivo algum para comemorar. Quantas outras milhares de pessoas nasceram neste dia dezesseis de setembro e outras que morreram e outras que nasceram e morreram e outras que nascerão amanhã e depois e também morrerão? O que todas essas comemorações por nascimentos e aniversários e lamúrias em velórios podem acrescentar de bom na dinâmica do mundo? Não é especial. A fração que me resta do meu dia é tão mínima que não representa nada para mim; pode representar para os outros que ainda não perceberam o que percebi, mas, quando perceberem – se viverem até lá – ficarão tão incrédulos quanto eu. Aliás, o problema é este mesmo: não creio em nada, nem em mim, pois tudo que fiz, até hoje, foi extremamente falso.
Eu tinha bons propósitos, o que me torna um ser ainda mais desprezível: aquele que tem maus propósitos e faz tudo errado, segundo seus conceitos, está agindo de maneira correta, pois gosta de ser um tremendo filho da puta. Mas aquele que tem bons propósitos e não consegue realizá-los se sente fraco; sente-se incapaz. Exatamente como eu me sinto: mãos atadas.
Não mereço receber parabéns. Parabeniza-se por uma bela atitude, por um bom resultado obtido num empreendimento difícil, pelo esforço, entre outras coisas. Eu nunca obtive bons resultados concretos, não me esforço para obtê-los e minhas atitudes mais belas não são percebidas. Não quero contestação. Ninguém está dentro de mim, ninguém sente o que eu sinto, enquanto eu sou – ou quero ser – o que todos sentem.
Aí vêm as reflexões egoístas de outras pessoas, como se eu me preocupasse com elas. “Você é estranho!” “Pára de palhaçada.” Julguem, julguem. O melhor presente que eu poderia receber foi concedido por mim mesmo: este texto, que mostra que ainda há um pouco de verdade e sinceridade dentro deste que corpo que vai virar nada. O resto, – que resto? – não vai me atingir.

10 comentários:

  1. Felipe, não manejo as palavras com a mesma habilidade e graciosidade que você, mas estou aqui para te felicitar e te desejar sucesso nas empresas. Que nunca te falte a imaginação, lugar onde possa escrever e público que te mereça.

    Um beijo enorme, Eloisa.

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  2. Ainda que me odiasse eu te desejaria um feliz aniversário, uma vida mais feliz, sonhos pra realizar, mulheres pra te odiar. rs

    Ah, Lipe, até sincero você é hipnotizante. Tudo o que escreveu é você, mil vezes você, isso para os que conhecem a sua engenhosa forma de pensar e sentir.
    Eu te admiro tanto tanto, por ser simplesmente como é, um poeta incompreendido que em breve entrará de vez no rol dos loucos.


    Trilhões de beijos, da amiga Dica.

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  3. " não creio em nada, nem em mim, pois tudo que fiz, até hoje, foi extremamente falso."

    meu aniversário desse ano foi mais ou menos assim.

    eu tb queria ficar sozinho
    as pessoas não entendem q a felicidade não tem nd a ver com elas. pelo menos não a minha.

    me emocionei com o texto. profundamente.

    de qq jeito, feliz aniversário, pq d infeliz ja basta a gte.

    by the way, vc só tem 20 anos e escreve assim...

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  4. Apenas tenha a convicção de que o sol, hoje, brilha pela sua existência! Alimente-se disso!
    Um beijo com desejos de coisas boas, as presentes e as futuras!
    =**

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  5. Excesso de auto-crítica, me parece ser o problema.

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  6. Ai Felipe... imensa vontade de te xingar.
    comemorar oq? a vida porra, isso nao basta?
    eu gosto tanto de fazer aniversário e comemorar que mesmo vc escrevendo mil postes como este eu nunca vou entender...
    enfim, mesmo assim ainda desejo feliz aniversário!
    bjos!

    PS: se a Dilma ganhar vc vai comemorar né?! aff...

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  7. Cara, isso não deveria ser assim.

    Reconheço que os argumentos são válidos, vindo de você. Mas não é justo. Uma pessoa com tanta luz, tantos sonhos!

    Mas eu sei que é aí que está a contradição. Segundo você, ao que parece, essa luz não ilumina. E é aí que está o engano.

    Foi assim que me apaixonei por você. Não mude.

    Beijos.

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  8. O homem que parece sempre buscar o infinito com o olhar.

    Meu Destrinchador! hahaha

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  9. Embora já tenham falado acima tudo que te faça entender que é especial, quero te dizer que o mundo é mais feliz pq vc existe.

    Parabéns por mais um ano de vida, por ser tão sincero, tão agradável, tão querido, tão bonito e por tantas outras coisas que te fazem ser admirável.

    Beijo, beijo!

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  10. Olá. Parabéns atrasado. Tudo de bom pra você. Legal aqui. Apareça. Abraços.

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