sexta-feira, 30 de março de 2012

Alerta: tudo numa coisa só: drogas, machismo e aborto ilegal

Não citarei nomes nesta crônica que, infelizmente, cada vez mais se torna de costumes. O tema já é demasiado triste, e qualquer exposição que não traga em seu bojo uma solução é estéril e, por isso mesmo, hedionda. Seguirei nos limites da narração, com intervenções opinativas.
A questão das drogas, no Brasil, vem ganhando destaque cada vez maior. Para além do debate sobre a descriminalização, movimentos sociais e sociedade civil aprofundam a discussão, trazendo à luz tópicos que anteriormente eram considerados secundários.
É visível a todos que as mazelas estruturais da sociedade capitalista atingem, sobretudo, a juventude, que sofre com uma educação excludente, com um sistema de saúde pública ineficaz, com uma segurança pública que transforma jovem trabalhador em bandido, e em mártir que não será lembrado; sofre, também, com falta de emprego, de perspectivas, de qualificação, de cultura, de lazer etc. No entanto, nas últimas décadas, um agravante torna a situação ainda mais problemática: as drogas e, mais recentemente, o crack.
O crack tem um corte social muito bem definido. Bem definido e sórdido. Devido ao baixo custo, a droga é consumida majoritariamente por pessoas de classes sociais menos favorecidas, à margem da sociedade, que geralmente não contam mais com o suporte familiar. Esses usuários de crack vivem animalizados, distantes dos acontecimentos que os rodeiam.
Numa favela localizada em Niterói, onde moro, travei um diálogo aterrador com uma usuária, o qual reproduzirei a parte mais importante a seguir:
- Eu tô grávida, cara. Descobri segunda...
- E o que você vai fazer?
- O mesmo que já fiz das duas vezes antes. Eu vou pra casa, meu marido me dá chutes e socos na barriga até eu perder o filho. Ontem ele já fez isso, mas parou. Aos pouquinhos vou perdendo.
- ...
- Ele é crackudo também, fica aqui vira e mexe comigo. Mas não podemos ter filho por causa disso, sabe?
- Você não tem medo?
- Medo eu tenho, de ter filho aqui. Acho que filho é diferente, né? Mas, na vida que eu levo, não dá pra ter filho, não. Eu nem como, cara. Como ia cuidar de uma criança? É melhor assim mesmo.
Confesso que nunca me senti tão impotente, numa situação a curto prazo. O que eu poderia fazer? Chamar a polícia? Se eu fizesse isso, provavelmente, a polícia não faria nada, já que todos sabem onde fica a cracolândia. Além disso, se resolvessem fazer alguma coisa, fariam a mesma cena grotesca que se viu em São Paulo: repressão, brutalidade, violência. Pensei seriamente em ir à delegacia de mulheres. Mas de que adiantaria? O problema do crack, antes de ser um caso de segurança pública, é um caso de saúde pública. Pensei numa clínica de reabilitação para usuários de crack, e acho que é o mais eficaz. Entretanto, os usuários precisam ser convencidos e se internarem por vontade própria. Não é um trabalho imediato. Voltarei lá, farei a minha parte. Não posso perder o ânimo.
Este é um caso em que tudo que há de pior na sociedade se encontra: problema das drogas, violência à mulher, criminalização da pobreza e uma das coisas que a criminalização do aborto acarreta.
Sigamos na luta. Ainda há muito a ser feito!

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