segunda-feira, 25 de março de 2013

Luta de classes de palavras



Todas as palavras de um dicionário
Em desuso, imitando a humanidade,
Entraram em tremenda luta de classes.

Os adjetivos, obtusos, verborrágicos,
Fátuos, nada tinham a dizer.
Por isso, sem voz, foram exterminados.

Os substantivos, suporte das coisas,
A princípio eram a classe – de palavras
– dominante. Contribuíam, e muito,
Para a manutenção do status-quo,
Uma vez que, por si só,
Não impulsionavam a revolução.
Sua passividade foi tanta,
Que chegou a se abstratizar.

Seria ideal que os artigos, formas
Presas, reivindicassem sua liberdade,
E se aliassem estrategicamente
Com a classe – de palavras – revolucionária.
Não eram capazes, no entanto,
E quietos em seu canto,
Também viram a história passar.

Os pronomes vacilavam entre
Diversas classes, diversas funções,
E por isso não assumiram o papel
De vanguarda consciente,
Uma vez que não se posicionavam
Firmemente.

Os verbos, que tinham a capacidade
De criar, de transformar, logo se destacaram,
Empunhando armas,
Levando a cabo a revolução.
Numa reunião, o verbo Resistir afirmou:
- Por exemplo: um neologismo
Não se materializa enquanto não
Se realiza a ação de criá-lo. Portanto,
Camaradas, de bandeiras e armas
E punhos erguidos, assumamos
O posto de chefes da revolução!
É preciso transformar!

Então os verbos libertaram sua classe,
E com isso libertaram todas as outras,
Até que esse conceito de classes fosse
Se abolindo.
Queimaram o dicionário,
Proclamando a liberdade e a pluralidade
Da língua: cada palavra em seus
Múltiplos incompletos sentidos.

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